A economia da Argentina enfrenta desafios significativos nove meses após a posse do presidente Javier Milei. Desde sua chegada ao poder, a inflação mensal caiu de 25,5% em dezembro de 2023 para 4,6% em junho de 2024. Apesar dessa desaceleração, o índice acumulado em 12 meses ainda é alarmante, atingindo 271,5%. A gestão de Milei tem sido marcada por um plano econômico que, segundo analistas, é insuficiente para resolver os problemas estruturais do país, que incluem uma dívida pública elevada, escassez de reservas em dólares e a desvalorização da moeda local.
Milei implementou cortes de gastos e ajustes fiscais com a esperança de restaurar a confiança dos investidores e estimular o crescimento econômico. No entanto, essas medidas têm gerado um impacto negativo na população, que enfrenta dificuldades devido ao chamado “Plano Motosserra”. Este plano resultou em cortes de subsídios e paralisação de obras públicas, além de uma desvalorização do câmbio, o que tem afetado diretamente o custo de vida.
Embora a inflação tenha diminuído, os preços de serviços essenciais, como água, gás e transporte, aumentaram significativamente desde o início do ano. A percepção de que a inflação real é muito maior do que os índices oficiais é compartilhada por muitos cidadãos, como o cabeleireiro Gustavo García, que expressou sua insatisfação com a discrepância entre os aumentos salariais e a inflação.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina também sofreu uma queda de 5,1% no primeiro trimestre de 2024, e a taxa de pobreza aumentou. Apesar do custo social das medidas, o mercado financeiro reagiu positivamente, com um aumento nas reservas em dólares e o primeiro superávit fiscal desde 2008. No entanto, a instabilidade cambial e a dívida pública continuam a ser preocupações para a equipe econômica de Milei.
A dificuldade em acumular reservas internacionais é um dos principais obstáculos enfrentados pelo governo. As reservas, que eram de cerca de US$ 21 bilhões quando Milei assumiu, aumentaram para US$ 30 bilhões em abril, mas caíram para aproximadamente US$ 27,4 bilhões em julho. Especialistas afirmam que o país precisa de pelo menos US$ 62 bilhões em reservas para garantir a estabilidade cambial.
Outro fator de risco é a possibilidade de um novo calote da dívida pública, especialmente considerando que a Argentina deve mais de US$ 40 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A falta de confiança dos investidores, exacerbada pelo controle de capitais, pode dificultar a entrada de novos investimentos e aumentar a probabilidade de um default.
A relação entre a inflação e a política também é um tema central na gestão de Milei. O presidente tem priorizado o controle da inflação, mas isso pode estar ofuscando a necessidade de reformas estruturais de longo prazo. A diferença entre o câmbio oficial e o “dólar blue” tem gerado incertezas no mercado, com a cotação oficial em cerca de 900 pesos e o dólar paralelo a 1.400 pesos.
Por fim, os custos socioeconômicos das medidas implementadas pelo governo são evidentes. A população continua a sentir os efeitos da crise, e a insatisfação pode impactar a estabilidade política de Milei. A combinação de inflação alta, desemprego e pobreza crescente representa um desafio significativo para a administração, que precisa encontrar um equilíbrio entre medidas de curto prazo e soluções sustentáveis para a economia argentina.