A indústria de energia renovável no Brasil enfrenta uma crise sem precedentes, marcada por prejuízos bilionários, falências e demissões em massa, que colocam em risco o protagonismo do país na transição energética global. Apesar do crescimento acelerado nas últimas décadas, setores essenciais como energia solar e eólica encontram-se em colapso devido a uma combinação de fatores internos e externos que exigem respostas rápidas e eficazes das autoridades governamentais e reguladoras. O momento é de alerta para toda a cadeia produtiva da indústria renovável.
Nos últimos meses, importantes empresas do setor de energia renovável recorreram à recuperação judicial para tentar reorganizar suas dívidas diante de um cenário financeiro dramático. Entre elas, destacam-se grandes nomes da energia eólica e solar que enfrentam dificuldades para manter suas operações diante da alta dos juros, da falta de infraestrutura adequada e dos atrasos em licenças ambientais. Esses entraves, comuns a nível global, assumem proporções ainda mais graves no Brasil, impactando diretamente a produção, a geração de empregos e os investimentos no setor.
O Brasil, que em 2023 foi o terceiro país que mais adicionou capacidade em energia solar e eólica no mundo, vive hoje um desequilíbrio crítico entre a oferta e a capacidade de transmissão dessa energia. A expansão acelerada, embora positiva em termos de geração, gerou um gargalo estrutural: durante os períodos de maior produção, especialmente durante o dia, a rede elétrica não suporta toda a energia gerada, obrigando o operador nacional a reduzir a produção das usinas renováveis. Esse fenômeno tem causado prejuízos significativos para as empresas e ameaça o ritmo da transição energética.
A situação financeira da indústria renovável no Brasil é tão delicada que associações representativas do setor já buscam negociações emergenciais com bancos e investidores para evitar que a crise se agrave. Com a taxa básica de juros no patamar mais alto em quase 20 anos, o custo do crédito elevou o endividamento e prejudicou o fluxo de caixa das empresas. Consequentemente, cerca de 11 mil empregos foram perdidos entre 2024 e 2025, evidenciando o impacto social da crise na indústria renovável.
O problema da transmissão de energia, especialmente entre o Nordeste – principal polo gerador – e o Sudeste – maior centro consumidor – permanece um dos principais gargalos da indústria renovável brasileira. A infraestrutura ainda insuficiente para escoar a produção não apenas limita o crescimento, mas também contribui para episódios de apagões e instabilidades que obrigam o operador do sistema a impor restrições severas à geração renovável. Esse cenário compromete a confiabilidade do setor e dificulta a atração de novos investimentos.
Além disso, uma mudança recente na regulamentação da Aneel agravou a situação financeira das empresas renováveis. A nova norma limita a compensação financeira pelos cortes na produção a no máximo 3% das perdas, enquanto as termelétricas continuam a ser ressarcidas integralmente. Essa medida gerou uma disputa judicial, com associações do setor reivindicando o reembolso de bilhões de reais em prejuízos acumulados, mostrando a urgência em se revisar as regras para garantir equilíbrio e justiça na indústria renovável.
Embora haja exemplos pontuais de recuperação, como algumas empresas que conseguem sair do vermelho e planejam ampliar a capacidade instalada, a realidade do setor é marcada por fechamentos de fábricas, redução do quadro de funcionários e venda de ativos importantes. A indústria renovável brasileira precisa urgentemente de medidas estruturais para superar a crise, que vão desde investimentos em infraestrutura, passando pela revisão regulatória, até a oferta de linhas de crédito adequadas para garantir a continuidade do crescimento sustentável do setor.
A crise atual na indústria de energia renovável no Brasil não apenas expõe vulnerabilidades econômicas e estruturais, mas também ameaça comprometer o papel do país como líder global na produção de energia limpa. É imprescindível que o governo e os órgãos reguladores atuem com rapidez e eficiência para reverter esse cenário, garantindo a segurança energética, a preservação dos empregos e a continuidade da transição para uma matriz energética mais sustentável e competitiva.
Autor: Vyacheslav Gavrilov