A bioeconomia revela‑se como um dos vetores mais estratégicos para o setor produtivo no Brasil, com representantes empresariais reconhecendo seu papel essencial no desenvolvimento industrial. Segundo levantamento recente da Confederação Nacional da Indústria, sete em cada dez empresários consideram que essa orientação representa uma mudança estrutural no modo como se organiza a atividade econômica. Esse movimento indefere entre inovação, sustentabilidade e competitividade, configurando‑se como uma fronteira inescapável para quem busca relevância e resiliência num mercado global cada vez mais exigente.
A transformação que a bioeconomia exige passa por utilizar a biodiversidade e os recursos naturais de forma inteligente, convertendo insumos antes marginalizados em oportunidades de valor agregado. No Brasil, o setor industrial começa a incorporar essa lógica, investindo em cadeias produtivas que atendem tanto requisitos ambientais quanto demanda por produtos de maior complexidade. Esse empenho confere às empresas locais uma vantagem potencial frente a concorrentes que ainda operam com paradigmas tradicionais.
Um pilar desse movimento reside na adoção de práticas mais sustentáveis, integradas e tecnológicas. A pesquisa mostra que mais de oitenta por cento dos executivos veem o uso responsável da biodiversidade como ativo estratégico, o que aponta para um alinhamento crescente entre propósito e lucro. A integração entre transformação digital, automação, economia circular e matéria‑prima renovável convergem para formar um novo padrão de produção que exige adaptação ágil das empresas.
No plano interno, a capacidade de gerar valor com insumos nativos fortalece não apenas o setor industrial, mas também o ecossistema de inovação e pesquisa do país. A bioeconomia pressupõe que universidades, centros tecnológicos, empresas e poder público dialoguem para desenvolver tecnologias, processos e produtos que elevem a indústria além da mera montagem ou importação. Esse ambiente colaborativo pode catalisar startups, fomentar patentes e criar empregos de alta qualificação — ingredientes essenciais para que o Brasil transite para uma matriz produtiva mais robusta.
Porém, nem tudo se desenrola num cenário naturalmente benigno. A transição para modelos orientados à bioeconomia impõe custos iniciais, mudanças de cultura organizacional e investimento em infraestrutura que nem todas as empresas estão prontas para suportar. No contexto brasileiro, desafios como carga tributária elevada, logística complexa, e uma dependência histórica de cadeias importadas entram no radar daqueles que apostam nessa direção. Superar essas barreiras requer visão de longo prazo e articulação ampla.
Ao conjugar competição e compromisso ambiental, a bioeconomia coloca a indústria brasileira frente à exigência de entregar produtos e processos que sejam não apenas eficientes, mas também rastreáveis e coerentes com padrões internacionais. A inserção em cadeias globais de valor passa a depender de certificações, transparência e alinhamento com as agendas climáticas. Nesse sentido, a adoção de princípios da bioeconomia pode transformar o Brasil em fornecedor estratégico, e não apenas em mercado consumidor.
Outro efeito significativo dessa transição é o estímulo à inovação de modelos de negócio. Fabricantes e fornecedores que abraçam a bioeconomia reorganizam suas operações para explorar bio‑insumos, aproveitar resíduos como recursos e repensar o ciclo de vida dos produtos. Essa abordagem tende a reduzir desperdícios, ampliar margens e gerar vantagens competitivas. Para o país, abre‑se a perspectiva de que indústrias tradicionais se reinventem e integrem cadeias de valor mais sustentáveis e complexas.
Em síntese, a bioeconomia desponta como um tema central para a indústria brasileira, capaz de redefinir o papel do país no mapa global da produção. A materialização desse potencial depende de ações concretas: investimento em tecnologia, atualização de competências, fortalecimento de fornecedores locais e alinhamento regulatório. O momento exige que as empresas vejam nessa agenda não apenas uma exigência exterior, mas uma oportunidade estratégica para crescer e liderar.
Autor: Vyacheslav Gavrilov
