O desmatamento e a falta de energias alternativas podem levar ao colapso da maior região produtora de gesso no país.
No Brasil, a indústria do gesso está destruindo um bioma precioso do nosso país: a Caatinga. A produção depende da queima de madeira, e as empresas estão desmatando cada vez mais, indo cada vez mais longe em busca de lenha. As consequências podem ser irreversíveis e ameaçam transformar o sertão pernambucano em um deserto.
O desmatamento e a falta de energias alternativas podem levar ao colapso da maior região produtora de gesso no país. Milhares de toras de madeira alimentam os fornos do polo gesseiro de Pernambuco – o maior do país, a 700 km do Recife. De lá saem 97% da gipsita do Brasil. É a quarta maior reserva do mundo.
“Gera muito emprego, gera renda para região”, afirma o economista e consultor Werson Kaval.
Dia e noite, sete dias por semana: 20 mil pessoas dependem direta ou indiretamente do que é produzido pelas 500 mineradoras, calcinadoras, fábricas de pré-moldados. Desde a década de 1960 que a Caatinga está virando carvão. Mas, agora, a natureza parece estar no limite. E as indústrias do gesso se tornaram vítimas do desmatamento que causaram.
“O setor gesseiro hoje vive um colapso iminente”, afirma Jefferson Araújo Duarte, presidente do Sindicato das Indústrias do Gesso do Araripe.
Com a escassez de árvores, a lenha está vindo cada vez mais de longe.
“Hoje, grande parte das empresas conseguem trazer essa lenha com 650, 700 km de distância”, Jefferson Araújo Duarte.
Gipsita, a matéria-prima do gesso
Para se transformar em gesso, a pedra de gipsita precisa passar por um processo de calcinação, ou desidratação, que é a retirada da maior parte da água. E, para isso, é preciso queimar muita lenha.
Depois da explosão nas minas, o britador quebra a gipsita. É para facilitar o transporte. Caminhões lotados levam o mineral que vai ser usado na construção civil, em hospitais, e até na agricultura para correção do solo. Só depois de triturada, a pedra segue para os fornos das calcinadoras. Sob altas temperaturas, a gipsita se desidrata, fragmenta e vira pó.
Só que com a tonelada da lenha custando cerca de R$ 230 e a do gesso vendida a R$ 250, a conta está difícil de fechar.
O frete é outro problema. Muitos caminhões irregulares circulam à noite abarrotados de lenha. O Fantástico acompanhou uma blitz da Polícia Rodoviária Federal em Araripina. Em poucas horas, quatro caminhões foram apreendidos com várias infrações.
Devastação na Caatinga
A apreensão de lenha sem comprovação da origem aumentou em 500% em 2023.
O engenheiro florestal Ivan Ighour estudou a devastação na Caatinga no polo gesseiro. Ele comparou imagens de satélites ao longo de dez anos na região.
“A informação que a gente tem com esse estudo é que ao longo do ano se extrai 11 mil campos de futebol aqui da região do Araripe, de forma legal e ilegal”, diz Ivan Ighour Silva Sá.
A vegetação da Caatinga não existe em nenhum outro lugar do mundo. É um bioma que só o Brasil tem. E nem assim ele conseguiu escapar do desmatamento. A natureza paga um preço alto por esta destruição. Com a terra mais seca, sem a cobertura vegetal, o processo de desertificação se agrava.
Segundo levantamento do MapBiomas, restam pouco mais de 57% da vegetação nativa da Caatinga no Nordeste.